quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O conto dos países inovadores

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15:29, 23/08/2011
CLEMENTE NOBREGA
Todo grupo humano- seja um país, seja uma empresa – tem um sistema operacional que define o que o grupo pode de fazer. Que características tem de ter o sistema operacional de um país para que ele seja capaz de inovar?
A lista que compilei tem elementos que estão presentes em lugares tão diferentes como Suécia, Japão e Estados Unidos, por exemplo. Como Tolstoi poderia ter dito, os países inovadores são ricos de maneira muito semelhante – têm sistemas operacionais que geram os mesmos efeitos. Países não inovadores, porém, são pobres cada um à sua maneira. Seus sistemas operacionais “dão pau” cada um do seu jeito.
  • - Se eu tivesse de resumir o que aprendi dos países que têm sistemas operacionais que promovem inovação, contaria a seguinte historinha:
-Nos países inovadores há um alto nível de confiança nas relações entre os indivíduos. Cooperação com base em reciprocidade é a norma mais arraigada nas relações sociais. Reciprocidade quer dizer: eu recebo proporcionalmente ao que dou. Alguém receber algo a que não faz jus não é tolerado, e não receber o que é justo em troca de uma contribuição legítima, também não é.
Quando a Enron foi para o brejo, a TV mostrou funcionários esvaziando gavetas aos prantos (por terem perdido empregos e fundos de aposentadoria) enquanto os chefões – que fraudaram e mentiram – saíam milionários. A raiva explodiu. O homem da rua, o pequeno José ou João (ou Joe) não entende de finanças, estratégias ou modelos de negócio. Precisa de autoridades que lhe orientem. Quando um cara chamado Kenneth Lay (ex-CEO da Enron), garantiu que ia torná-lo rico, Joe acreditou. Quando percebeu que foi traído, a raiva tomou conta. Kenneth Lay morreu semanas antes de ouvir sua sentença (que seria de 20 a 30 anos de prisão, no mínimo). O clamor público neste episódio pode ser comparado ao que ocorreu quando a TV mostrou o que, de fato, os EUA estavam fazendo no Vietnã. -Num país inovador a informação flui livremente. Há liberdade de comerciar e mercados livres. Mercados (regulados e controlados sempre que necessário) são essenciais. O que o colapso de grandes empresas têm mostrado, é que uma se pode até enganar seus reguladores, seus contadores, seus fornecedores, mas não se pode enganar o mercado. Ou a empresa dá um jeito de ganhar mais do que gasta ou vai desaparecer. Ela pode convencer seus financiadores a mantê-la à tona por um tempo, mas vai acabar afundando.
-Não há país inovador isolado do mundo. A energia empreendedora precisa de fronteiras abertas e estímulo para trocas e transações. Mas lembre-se: o mundo só vai confiar em você se você se provar confiável. A riqueza depende de reciprocidade. Silicon Valley é o ícone supremo da inovação, por sua cultura única de troca de informações entre engenheiros e pesquisadores (de empresas concorrentes!). Nem nos EUA há coisa igual. Os engenheiros mudam de emprego frequentemente, e ninguém liga por eles levarem segredos de uma empresa para outra. Direito à imaginação livre e competição baseada nela, imaginação.

O que garante o funcionamento do sistema operacional de países inovadores é a regra da lei (the rule of law). Um aparato jurídico que cuida para que as normas de convivência entre pessoas e instituições sejam seguidas por todos. Um funcionário mal remunerado de uma agência governamental americana pode processar Bill Gates e quebrar o monopólio da Microsoft. A corrupção é mantida em níveis mínimos. Em países inovadores, é legítimo e bom acumular posses individuais. O que é seu é seu. Direito à propriedade/ respeito à patentes é fundamental para induzir o investimento e a aceitação do risco por parte de pessoas e empresas. Mas países inovadores também penalizam fortemente os efeitos deletérios que a iniciativa individual possa trazer a quem não tem nada com isso. Não se admite nem pegar carona no esforço dos outros nem agir de forma a arriscar terceiros. Pirataria é crime sério. O início da reforma que está levando ao “capitalismo” chinês foi assim-os chineses passaram a ter direito de vender suas colheitas a quem pagasse mais. Países inovadores têm uma ética de trabalho arraigada, uma crença em melhorar de vida graças ao esforço pessoal. Meritocracia. A crença que a recompensa virá pelo esforço que cada indivíduo coloca nesse investimento. É assim que pensam as novas gerações de hindus e chineses que trabalham e estudam 15 horas por dia, sete dias por semana, ganhando muito pouco hoje, mas preparando-se para tomar conta do mundo amanhã. Em países inovadores a mentalidade “soma não zero” permeia toda a sociedade. Essa é uma norma cultural que diz que o bolo que existe hoje poderá crescer se houver colaboração. Minha vitória pessoal não se dá ás custas da derrota de outro. A mentalidade oposta, ”soma zero”, diz que o melhor é garantir logo sua fatia do bolo, antes que outro o faça. Não há visão de destino compartilhado, ganha quem tirar mais para si. Países inovadores valorizam a mentalidade científica e a racionalidade na busca de soluções; sociedades pobres tendem a abraçar o oculto e o mágico. Nessas,o religioso e o político se misturam. Acham que seu destino depende de salvadores messiânicos, ou da boa vontade dos deuses, não de seus esforços pessoais. Países inovadores têm lideranças mais pragmáticas, e menos ideológicas, que não hesitam em assumir posições impopulares para fazer o que deve ser feito. Países pobres têm versões diferentes daquilo que os antropólogos chamam de Big Men- lideranças truculentas que se impõe pela força, ou então populistas e carismáticos que manipulam a fraqueza e ignorância das multidões.Big Men se especializam em conchavos com grupos de interesse diversos, e seu objetivo único é ficar no poder (precisa de exemplos?).Finalmente, nas sociedades inovadoras há competição livre e um viés forte para experimentar e aprender com a experiência- uma forma saudável de se lidar com o erro. Sociedades não inovadoras tendem a se apegar ao certo, ao sem risco, ao garantido.

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