domingo, 13 de junho de 2010

Grande pensador moderno

O otimista pragmático - C.K. Prahalad (1941-2010)
A capacidade de ler sua época com rara clareza fez de Prahalad um inspirador para as empresas modernas
Por Rodolfo Araújo*


Mundo da gestão perdeu em 16 de abril um de seus principais inspiradores. Coimbatore Krishnarao Prahalad morreu aos 68 anos, em San Diego, na Califórnia. Doutor pela Harvard Business School, era professor de estratégia na Ross School of Business da Universidade de Michigan e considerado um dos mais influentes pensadores pela Thinkers 50, lista de referência dos grandes nomes da administração. Sua obra pode ser revista por três fios condutores: conhecimento, poder do indivíduo e, sobretudo, olhar para o futuro a partir de uma visão inclusiva de desenvolvimento – e não apenas em teorias centradas em custos. Para o pensador indiano, as estratégias corporativas deveriam ser arquitetadas a partir de oportunidades.
Prahalad iniciou a defesa dessa visão junto com Gary Hamel, um de seus principais parceiros, com quem escreveu, em 1990, o célebre artigo The Core Competence of the Corporation, e fundador do conceito de “competências essenciais”. Para os autores, as empresas não eram um conjunto de silos, mas ambientes dinâmicos de conhecimentos, técnicas e tecnologias sobre suas atividades.
A parceria gerou, em 1994, o livro Competindo pelo Futuro, no qual reforçaram essa perspectiva promissora de desenvolvimento. Segundo a dupla, “nos negócios, como na arte, o que distingue os líderes dos retardatários é a capacidade de imaginar com originalidade o que é possível”.
Prahalad alertou as empresas para a força do consumidor de baixa renda

Em O Futuro da Competição, escrito com Venkat Ramaswamy, em 2004, Prahalad atualizou sua reflexão ao inserir as experiências individuais como centro do processo de cocriação de valor, que passava a ocorrer em rede e de maneira colaborativa com o consumidor e outros agentes. Os autores retrataram um cenário de transparência e crescente acesso à informação, que deslocava o poder das empresas para as pessoas, criando a necessidade de diálogos baseados na confiança. A força de uma marca, portanto, estaria na qualidade das experiências proporcionadas, ou seja, nos vínculos genuínos e singulares estabelecidos entre ela e seus públicos.
Já sua visão de desenvolvimento inclusivo ganhou notoriedade em 2004, com A Riqueza na Base da Pirâmide. No livro, Prahalad alertou as corporações para a criação de novos campos de negócio focados nos emergentes consumidores de baixa renda e a consequente constituição de um ambiente de inclusão e prosperidade em países pobres.
Ao sofisticar sua visão sobre o futuro, Prahalad traçou a sustentabilidade como a fronteira principal da inovação, ou seja, como referência de transformação da maneira pela qual as empresas pensam seus modelos de negócio. Em 2008, com The New Age of Innovation: Driving Cocreated Value through Global Networks, Prahalad e M.S. Krishnan enfatizaram a importância das transações focadas nas experiências individuais e no uso inteligente de recursos em um contexto que chamou de “ecossistema global” de organizações.
Sua principal virtude foi, sem dúvida, a capacidade de ler sua época com rara clareza e, a partir dessa interpretação, criar um legado simultaneamente otimista e pragmático, ao articular e revisitar conceitos atuais e nem sempre bem conectados. Para construirmos o futuro de forma ativa, como Prahalad pregava, é preciso combinar imaginação e ação, ou seja, pensar não nas velhas (ou melhores), mas nas próximas práticas. Foi o que nos ensinou.
*Rodolfo Araújo é professor da Business School São Paulo e consultor da Thymus Branding

Nenhum comentário:

Postar um comentário