quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Imitação e inovação

O McDonald’s não é um caso raro de concorrente tardio que se tornou líder do mercado. Diferentemente da percepção comum, que confere exagerado peso aos inventores, os vencedores costumam chegar mais tarde. Dois professores da New York University, Gerard Tellis e Peter Golder, mostraram isso em uma análise histórica de 500 marcas em 66 mercados nos Estados Unidos entre 1856 e 1979. Durante os 123 anos examinados, o percentual de fracasso dos pioneiros foi de 47%. A fatia de mercado conquistada pelo inovador não passou, em geral, dos 10%. O líder de cada área entrou no mercado, em média, 13 anos depois do inovador. “Lembre-se que, na imitação, o timing não é tudo”, diz Shenkar, autor de Copycats. Nem é necessário se apressar para copiar. Em geral, é melhor uma cópia benfeita do que uma cópia ruim rápida.
Há, porém, uma diferença entre a imitação e a pirataria, afirma Yadong Luo. Muitos imitadores copiam apenas para abreviar o caminho da criação. As chinesas Haier (eletrodomésticos) e Huawei (telecomunicações), assim como as sul-coreanas Hyundai e Samsung, são casos bem-sucedidos de copycats que se tornaram inovadoras de presença global. Segundo Luo, para dar esse salto algumas habilidades são cruciais: a “combinação” (mesclar os recursos próprios com tecnologias e componentes do inovador a ser imitado), a “absorção” (assimilar e aplicar novo conhecimento) e o “networking” (formação de alianças estratégicas necessárias à operação). “A Embraer, terceira maior fabricante mundial de jatos civis, alcançou essa posição depois de um longo período de imitação criativa feita mediante parcerias globais”, disse.
Outra habilidade essencial para um copycat é a rapidez. A Tianyu, terceiro maior fabricante de celulares da China, leva menos de dois meses para colocar nas prateleiras um modelo imitação da Nokia ou Motorola. Da concepção à produção do modelo de celular, leva-se em média 45 dias, ante seis meses, ao menos, na Nokia. Copiar, é claro, é mais rápido do que criar: a Tianyu adota soluções prontas de tecnologia do setor de telecomunicação. É o modelo chamado em inglês de turnkey model (modelo em que basta girar uma chave): a solução tecnológica vem em “pacote fechado”. No departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Tianyu, que emprega 600 profissionais, pesquisam-se formas cada vez mais rápidas de agilizar a implantação de processos e tecnologias... vindos de fora.
Segundo uma pesquisa da professora Femke van Horen, da Universidade de Colônia, na Alemanha, a imitação deslavada é um entrave à expansão das copycats – um dos fatores de ganho de musculatura é desenvolver certa originalidade, por moderada que seja. O recado parece ser: até para imitar é preciso ter ambição de criar algo.
Época Negócios fev12.

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